A pintura é, para mim, uma das raras portas de saída do
impasse tecno-filosófico do homem moderno. Contra as divisões arbitrárias,
contra os cânones técnicos e estéticos herdados do passado. O homem deve
sensibilizar-se a outras formas, mais autodidatas, mais puras, sem etiquetas.
A pintura deve constantemente renovar-se, hoje como
antes, para que ela não falhe à sua missão de fonte de maravilhar, de vetor de
progresso, de conhecimento e entendimento entre os homens. Construo uma pintura aplicando manchas de cores sobre uma tela, sem nunca tentar dar-lhe um sentido. A força de agregar cores, formas espontâneas terminam por aparecer. E lá, o trabalho começa. Entro num diálogo subjetivo com a tela.
Assim, nestas formas espontâneas, procuro dar um sentido à obra, ou simplesmente ativar os sentidos, inconscientemente reencontrados: iluminando, escurecendo, escondendo, calmando, ativando, afastando, acariciando, amando... Atravessando assim a porta de um mundo, novos mundos se abrem a mim. Entro num universo onírico, onde o passado se mistura ao presente, o verdadeiro ao falso, o consciente ao inconsciente, o amor à morte. O resultado obtido é o mapa geográfico do mais profundo do meu inconsciente: um palimpsesto colorido. Acariciando assim as cores, espero fazê-las falar e, por elas, exprimir de mim uma obra cheia de beleza.
Fernando Magalhães
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